segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Cume no Morro da Mina

visão geral da parede

     Foi tanta investida nesta parede, comparada a outras indiadas, que não sei por onde começar. Então, vou começar mais da frente, se for do começo é história demais. Vou falar sobre a via, desde a hora que tirei os pés do chão.
Iniciei a 1ª cordada em artificial de rebites por 25m até chegar no início da fenda, inicio do maior e mais lindo diedro vertical que ví  ao vivo até hoje.
1ª enfiada, 25m em artificial A1


Quem continuou a 2ª enfiada que foi até embaixo de um grande teto foi o Sapo, escalada linda e com seus riscos, lances em blocos soltos e sem proteção antes chegar na segunda parada.

2ª enfiada 45m VIIb E2



A 3ª cordada acredito ser a mais forte psicológicamente, sabendo como é, não dá coragem de repetir. Uma sequência negativa em agarras sem proteção por um longo trecho e virando 2 tetinhos, se cair vai direto na parada, fator 2 com fator de queda na parada. O Sapo tirou de letra esses lances, mas diz ele que não sabe se é um 4º ou um 7º grau, passou adrenado procurando alguma coisa pra proteger, muita pedra quebrando neste trecho.
 A 4ª cordada alivia o fator da exposição, outra virada de teto, mais uns metros e chega num platô que dá pra sentar legal, a única parada que ficou em móvel da via. Para a repetição é obrigatório deixar uma corda fixa na P2, passa pela P3 e vai até a P4 com um móvel para conseguir voltar para as paradas no rapel.

3ª enfiada ??? 15m E3

jumariando a 3ª enfiada
 Todo esse trecho entre a 1ª parada da via até a 4ª parada foi conquistado pelo Sapo com seg do Renato, enquato eu arrumava o acampamento para a pernoite. Nesta noite o bixo pegou, a previsão era melhora no tempo, mas não foi o que aconteceu lá, a chuva nos castigou durante toda a noite, a parede ficou enxarcada nos metros finais e tivemos que abandonar a empreitada com nossos equipamentos a 100m do chão.
Uma semana depois voltamos para a parede, novamente com chuva. Aliás, choveu em todas as investidas.
Com 100m de corda fixa eu e o Sapo iniciamos a escalada já tarde, para uma investida na serra, por causa da chuva. A idéia era dormir na parede para não ter que subir pela corda em parede negativa por mais de 100m novamente. Iniciei a 5º enfiada num diedro muito lindo, olhava para baixo e via 30m de diedro e depois a base da via 100m depois do fim do diedro, muito bom para o psicológico a sensação de exposição, kkkkkkk. No final destes 30m de diedro encontrei o que mais sonhava, um platô confortável. Foram 125m de via com paradas aéreas, viradas de tetos, cordas soltas balançando, blocos que se soltavam e nem batia na parede, ia direto pro chão... Mas aliviou chegar a um platô confortável como aquele.
 Neste meio tempo chega o Renato na base da via e inicia a ascenção e os trabalhos tracionando cargas para a pernoite, já era final de tarde e praticamente todo o trabalho foi com as lanternas de cabeça, sobe e desce, puxa hall-bag e tudo pronto as 9:30hs da noite. A noite foi bem confortável, pelo menos pra mim, mesmo com chuva, o platô é protegido.
içando cargas

fazendo a seg do platô onde pernoitamos

Amanheceu e o Renato assumiu a ponta da corda, neste trecho tivemos um desconforto. Já na saída do platô tinha que virar um teto e pegar um trecho em trepa mato, perdemos a visão do Renato, tranquilo, mas logo depois, com menos de 15m na enfiada, perdemos todo o contato. Ele escalou 30m e parou, ouvimos alguns gritos, não sabíamos se estava numa parada móvel, se estava sentado num clif pedindo o batedor, se podíamos julmariar... Ficamos na tensão por alguns minutos e resolvi iniciar uma ascensão pela corda dele, um puxão e nenhuma reação, uma pisada no estribo e nada, beleza, só subir. Julmariei os 30m e cheguei em outro platô muito bom com o Renato sentado com a boca na orelha curtindo o visul da serra. Esse foi o trecho mais complicado da via, ao contrário de toda a rota que seguimos, óbvia, pela fenda, neste trecho tinha que escolher por onde a via ia continuar, e o Renato acertou na mosca.
 O Sapo chegando eu assumi a ponta da corda e iniciei a escalada, já ví que tinha que fazer um artificial para chegar em um diedro uns 20m acima. Iniciei por uma caneleta com proteção marginal com objetivo de atravessar para a direita em parede praticamente lisa. Como não tinha nenhuma proteção bomba eu resolvi bater um pino, e logo ví que tinha uns lugares para os pés e uma fendinha de uns 15cm de comprimento numa laca uns 4m acima, pronto, "vou mandar em livre rapaziada", se arrependimento matasse... iniciei em livre e não consegui vencer o lance, sem pensar fiz um A0 com o pé no pino, mais uns movimentos pra cima e consegui proteger com um camalot 0.3 numa laca. Dá ultima vez que ví alguém proteger numa laca de arenito não precisou nem de uma queda pra estourar tudo, o Bruno na serrinha simplesmente sentou com uma peça numa laca mais larga que esse que protegi e em segundos foi parar 8m abaixo arregalado sem saber o que tinha acontecido, sem contar do bloco que passou do meu lado. Não foi muito bom passar isso pela cabeça na hora, mas fazer o que... Me bateu o mal de Elvis na hora. Toquei mais uns 4m nuns movimentos muito fortes pra mim, no limite pra cair, e conseguir colocar outra peça, um camalot 0.4 em outro buraco, neste trecho uma queda acabaria no platô uns 10m abaixo, consegui progredir mais um pouco e fiquei confortável num agarrão. A última proteção estava no pé, mais uns movimentos e coloquei um camalot 0.5 sentei na peça confiante, foi quando ela rasgou a fenda e sacou 2 cams, foi um belo aviso, o que tinha pra baixo não ia funcionar pra nada, uma queda neste ponto seria muito complicado, cairia no platô uns 15m abaixo a 150m do chão. Não consegui mais tocar pra cima, consegui equalizar 2 peças meia boca e bati um piton que entrou só a metade e desci.
7ª enfiada 30m VIIa/b A2 E3 


O Renato com a cabeça fria mandou o próximo lance e não conseguiu passar o artificial em móvel, ai o Sapo tocou o restante da cordada. Já estavamos com as mãos no cume, 185m de via e um trecho todo fragmentado, muito lindo com várias fendas pela frente.
8ª enfiada 25m VI E2


O Sapo continuou na ponta da corda e foi progredindo metro a metro, entrou numa chaminé e quando segurou num bloco ele se desprendeu e caiu sobre o Sapo. O bloco tinha quase 1m e imobilizou o Sapo, com muito esforço o bloco se rachou e foi ai que o Sapo conseguiu jogar umas das partes para fora e outra para dentro da chaminé. Alívio, mais 10m e cumeeeeeeeeee.

cume


2º rapel 


4º rapel


linha da via



Agradeço muito aos guerreiros Sapo e Renato que não exitaram e assumiram a bronca comigo rumo ao cume  do imponente Paredon.

Para repetição:
material necessário:
2 jogos de móvel similar ao camalot, peças grandes #5 e #6 ajuda muito;
3 cordas de 50m uma delas para direcionar o rapel entre a P4, P3 e P2, (pode ser um cordelete)
alguns nuts para laçar os rebites no 1º artificial;
e 500ml de cagibrina
Consideramos a via como um D5, local de acesso ruim e com pouca possibilidade de pernoite na base da via, então dormir na parede é um boa pedida pelo platô confortável e uma escalada mais tranquila. É possivel que uma dupla muito rápida consiga repetir em um dia, mas o rapel e as últimas enfiadas se torna um risco muito grande, melhor em 2 dias. Via toda em móvel com proteções dúvidosas em muitos pontos e com graduação técnica alta, mais um motivo da demora na progressão. Parede vertical e negativa. Trechos expostos de E3. Aconselhamos fazer uma parada móvel antes da P2, para que, em uma eventual queda, a parada esteja livre e evite um fator de queda nela e...só Deus sabe o que pode acontecer. A 7ª enfiada tem um trecho muito complicado, com uma sequência de proteções bem duvidosas, não sei o que pode acontecer numa queda, se sacar tudo E4, se não sacar nada E1, melhor não cair, lances de VIIa. Fora esses perrengues, diedros e tetos lindos, uma escalada incomum, só alegria e um belo visual da barragem do Rio São Bento e Vale do São Pedro.

Como é o comum, as graduações são sugestões dos conquistadores, precisa de algumas repetições para confirmar, e estamos ansiosos para ver as repetições. Bóra lá rapaziada.







5 comentários:

  1. Passando a adrenalina e euforia, que se percebe a beleza de uma escalada em uma parede desse porte.BIG WALL. uhuuu,é muito massa.Um sonho realizado que eu não imaginaria que já fosse neste ano, um ano que vai deixar muitas realizações e recordações no montanhismo para mim.Tudo correu bem como planejado , sempre com a parceria e incentivo forte dos amigos Filipe e Sapo,(malucos) e o apoio da Fernanda,Mainô, e Aline que não cansaram de esperar a nossa chegada tarde da noite, e que a todo o momento, a cada ascensão os gritos vindos lá debaixo davam arrepios de emoção,e a vontade de concluir a jornada,descer e dar um abraço de agradecimento pela grande motivação.Abraços a todos os envolvidos que torceram pela conquista.Até a visinhança que com lanternas aconpanhavam o sobe e desce da nossa peleia até na hora de dormirmos.Parabéns!!!Na próxima,para quem for repetir, ficarei com prazer observando e admirando, tirando fotos lá debaixo, porque o Paredon é espetacular para ser observado de qualquer forma.E não pode faltar o telescópio, pra ficar na estiga bem de perto.Abraços!
    Renato

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  2. Parabéns!! Que baita via... de tirar o fôlego!
    Aquele Abraço

    Zig

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  3. uhuummm, é isso ae...valeu a parceria Filipe e Renato. Grande via e grandioza escalada. Abç Sapo

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  4. que baita diedro....
    que baita via...

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