terça-feira, 13 de outubro de 2015

Salinasss

...saímos da serra dos órgãos depois de ter escalado a Agulha do Diabo, Verruga do Frade e Dedo de Deus, já estava de cabeça cheia, satisfeito e com a boca na orelha das boas escaladas dos últimos dias no Rio e Órgãos mas as grandes paredes ainda estavam por vir. Descemos do Dedo de Deus e de lá partimos direto para 3 picos no final de tarde. Chegamos no refúgio do Tartari a noite, mas pelo caminho, ainda de dia, passamos por Torres de Bom Sucesso que impressiona qualquer escalador pela imponência.
Refúgio do Mascarin.
   Dia seguinte foi para se acomodar e "descansar", levar os bagulhos pra cima e separar os equipamentos para a próxima escalada. As escaladas dos dias anteriores foram perfeitas para se aclimatar, estava bem psicologicamente, diferente de quando cheguei no Rio, e bem confiante pra enfrentar as grandes paredes dos 3 picos. Mas eu era marinheiro, ops, escalador de primeira viagem em Salinas, não conhecia sobre as vias a não ser a famosa Leste do pico Maior. Já tinha ouvido falar muito desta via, ouvi relatos de quem não conseguiu completar a via e teve que passar a noite fria na parede, (o cume está a mais de 2300m de altitude e é comum temperaturas abaixo de zero quando cai a noite) relatos de quem chegou no cume, mas a noite, e não conseguiu encontrar o rapel que por sinal não é brincadeira. O cume sempre vai ser a metade do caminho em Salinas.
   Como não conhecia quase nada e estava com o Bruno Alves que conhece bem a região e também me conhece muito bem sabia que o que ele iria propor era diversão garantida. Acordamos as 5 horas da manhã, a geada estava pegando forte, muito frio, as 6 estava começando a caminhada de 1 horas até a base da via Arco da Velha D4 6º VIIa E3 700m. 
    Me assustou quando ele convidou para escalar esta via e vi a graduação dela, 700m de 6º com crux de VIIa na décima terceira cordada sendo que são todas cordadas longas. Por sorte este VIIa era possível fugir pegando a via Decadénce Avec Elegance mas mesmo assim há um lance de VIsup na décima primeira cordada e outras passagens de VI em vários trechos da via, e trecho final da Decadence é bem chatinho, então...fomos mesmo assim pra ver de perto isso.
    O dia amanheceu com uma núvem baixa, um pouco estranha. Encontramos o Mascarin que falou não ter previsão de chuva, que a núvem ia dessipar no meio da manhã, normal. Beleza, entramos na via, primeira, segunda, terceira cordada e a núvem começou a engrossar, já começou a umidecer. Resolvemos sentar no platô confortável da P3 e esperar um pouco pra ver o que ia acontecer, estavamos rápidos apesar de perdidos nas 2 primeiras cordadas pois achamos a metade dos poucos pinos que tinham. Tinha como esperar um pouco e era mais seguro pois estávamos com uma corda de 70m apenas e a partir da P4 descer era praticamente impossível. Menos de 2 minutos depois que paramos começou a chover. Iniciamos o rapel e quando chegamos na base da via já estava correndo uma cachoeira da parede. 
   Dois dias depois quando o tempo melhorou estávamos lá, as 7:30h da manhã na P3 da Arco da Velha passando pra cima de uma núvem pesada que me deixou cabreiro até ver o céu azul acima dela e sentir o sol esquentar as mãos que estava um frio do caramba. Até ali é fácil, fizemos em simultaneo e dali em diante começa a ficar em pé.

Bem no crux da quarta cordada
Uma travessia longa e horizontal leva você para o início de uma parede com mais de 400m vertical, quase sem platô, um ou outro minúsculo, facinho voar 30m sem quicar na parede, mas quem quer voar 30m né. Da quarta cordada em diante seguimos a estratégia de revesar as guiadas para agilizar o trabalho com a corda. E foi da P4 que ví uma dupla na P2.

Quinta cordada da Arco da Velha
Quando você está naquela imensidão de granito a sensação que dá é que você não é nada no meio daquilo tudo, que estão sozinhos. Mas não é bem assim por aquelas bandas. Você estará sempre vigiado pelo Mascarin com sua luneta, o Tartari de binóculo e o Portela na sua cola, te olhando de baixo, vendo cada metro que você sai da linha. Diziamos que o Capacete e o Pico Maior era nossa TV, todos os dias íamos acompanhar a programação, hoje a programação é um trio na El Cabong no canal Capacete e uma dupla na Leste no canal Pico maior e naquele momento éramos a programação do dia em um dos melhores programas de Salinas.


Casas, Caon e Urbano na Arco da Velha, sétima cordada
    A escalada fluia naturalmente, e é o que tem que ser por lá, não dá pra ficar tenso, não tem a segunda opção ou irá passar perrengue com toda certeza. Desapegar de proteger é a solução e seguir a linha mais natural possível é o que te vai safar de fazer lances de VI em trechos de IV. Muitas vezes você sai escalando depois de clipar uma proteção sem ver a próxima, e não é difícil sair escalando até achar a próxima proteção e ver que já está a 10m da última e falta uns 5m para a proteção que acabou de encontrar. Neste momento é que rola a negociação entre seu corpo e sua mente e entre a sua mente e a sua mente e se estiver difícil de fechar negócio, se a escalada não flui, é melhor repensar, perder tempo negociando numa parede destas não é legal, a fria noite pode te pegar facilmente então o melhor é deixar fluir e só administrar a burocracia, metro a metro sem deixar aumentar os batimentos cardíacos mas sem parar de escalar, sempre subindo. (espera um pouco que vou passar magnésio pra continuar escrevendo).
    Estava fazendo a segurança de cima na P6 quando o Alexandre Portela colou na mesma parada, foi ali que vi quem era. Escalar com o conquistador da via o restante dela foi um prazer enorme, sua simplicidade contagia. A Arco da Velha foi conquistada no ano em que nasci, 1986, e um dos consquitadores estava ali, escalando ao meu lado e monstrando toda a sua maestria passeando pela via.
    Fomos seguindo a frente até ele nos ultrapassar quando pulou a P9 parando direto na P10 abaixo do crux chave da via. Seus movimentos foram estudados a full passando o lance e sua dica ficou martelando na cabeça. "Se você entrar certo no lance não chega a ser um sexto grau, mas se errar vai ser um sétimo garantido".
Daniel Casas chegando no crux da Arco da Velha, décima cordada
Neste lance a proteção fica a uns 4m abaixo do pé em diagonal pra direita e a sensação de um vazador abaixo é impressionante, um vazio pra sua esquerda e toda a parede pra sair ralando pra direita. Foi ali que toda minha segurança inicial se acabou, passei a ponta da corda pro Bruno que não pensou duas vezes e tocou o lance sem hesitar. Quando cheguei na próxima parada o Bruno já estava aguniado, "vamo vamo que eles partiram e sumiram depois da aresta". O Bruno já estava pronto pra sair guiando novamente pra não perder o Portela de visão pois esta cordada é uma travessia muito exposta e sem visão, uns 25m horizontal sem proteção passando por uma aresta logo nos primeiros 5m de travessia onde o guia some para trás. Guiar ou ir de segundo não muda nada, o vazio do negativo acima do crux que agora está abaixo do seu pé suga toda a sua energia pra não cair. Quando saí de segundo a corda fazia uma barriga uns 2m para baixo, ai não tem jeito, você aperta em qualquer cristal que aparecer.


Nereida, Eu, Bruno e Portela no cume do Pico Maior
   Chegamos no cume umas 3 horas da tarde, curtimos o visual, eu, Bruno, Portela e Nereida que estava dividindo a corda com o Portela e iniciamos a descida pela Silvio Mendes chegando no chão ainda de dia.
    Se quando entrei na Arco já estava de cabeça feita imagina depois. Mas é impossível não escalar ficando num lugar daqueles.
   O Bruno partiu para a Pedra Riscada em MG com a Nereida e como eu tinha um voo marcado 4 dias depois tive que ficar em Salinas.
  Mas antes disso acontecer chegaram as meninas do Sul, Luana, Mônica e Daniele. O Bruno escalou com a Dani ainda no dia seguinte da Arco antes de partir pra Minas. E eu, no dia seguinte, entrei na Sólidas Ilusões D3 V VIsup E3 450m no Capacete com a Luana. Ela estava um tempo parada, e apesar de ser uma ótima escaladora e experiente resolveu ir toda a via de segundo, para a minha alegria, rsrs. A Sólidas é uma via que aconselho pra todos amigos, linda demais e é uma mini Arco da Velha, lances em pé, vertical mesmo e esticado, quanto mais vertical mais estica, um verdadeiro teste cardíaco.
Quarta cordada da Sólidas Ilusões
    Mas ai chega mais uma galera do sul, uma verdadeira invasão sulista e ai, eu como um eximio sulista, adentrei a trip Jamaica Stile que veio de carro e falaram pra abandonar o voo e voltar com eles, ráá, não deu nem nega, fiquei mais uma semana em nos 3 picos.
 A trip que parecia ter chegado ao fim deu mais um up e rolou mais umas boas escaladas e caminhadas. Primeiro fui para a Cabeça do Dragão caminhar com o Reginaldo Carvalho enquanto Daniel Casas, Rafael Caon e Alexandro Urbano estavam na Sólidas. Papo vai, papo vem e rola o papo, "vamos escalar o que amanhã?" o Regi nem pensou, "Leste, vamos?".
Cabeça de Dragão em dia de descanso

Mais uma vez no cume do Pico Maior, desta vez com o Reginal Carvalho
  Mais uma vez estava lá, as 7:30 horas da manhã iniciando a primeira cordada da Leste. O Regi também estava um tempo parado e pediu pra ir tocando, fui com todo o prazer num clima animal, uma parceria muito boa e de alto astral, varando cordada por cordada esticando até a corda acabar, saindo em simultâneo, se perdendo, parando em via errada, voltando, subindo reto onde tinha que atravessar, desescalando e mais uma vez estava no cume, mas desta vez mais cedo, 13:30h.
    Mas não parou por ai, entrei na CERJ D3 5º V (A0/VIsup) E2 400m no capacete com o Rafael Caon, um verdadeiro passeio, só que não, na verdade não existe passeio em Salinas, nada é de graça e qualquer escalada é comprometida, E2 é só pra não dar o braço a torcer pros Cerjianos que costumam encher de grampos as fendas perfeitas que por sinal não usei.


Daniel na Fata Morgana
    Ainda em bom clima de escalada, num alto astral  com os sulistas dominando Salinas na trip Jamaica Style entrei na Fata Morgana D3 5º Vsup E3 400m com o Daniel Casas, uma bela escalada, linda, picante com lances estranhos, exposto como tudo por lá onde me coloquei em cheque mate numa bobeira de erro de leitura que quase me levou a uma queda de mais de 20m gatantido com um platô abaixo, seria feio demais. Em todas as escaladas da trip este foi o lance em que realmente ví que ia dar B.O. Mas deu de recuperar e voltar pra linha com o suor já escorrendo no rego.
Urbano na Roberta Groba
     Já no último dia da trip estava de boa, no banheiro por sinal, já consiente que não ia mais escalar, quando o Casas e o Urbano gritam, "bóra Filipe pra Roberta Groba (D3 5º Vsup E3 400m)" Eles estavam saindo já, prontos. Sai correndo com as calças na mão pegando cadeirinha, sapatilha, tropeçando no cordelete, colocando o capacete de trás pra frente. Me perdi na trilha e quando cheguei na base da via, num suador, ví que cheguei antes deles que se perderam também, kkkkkk. No fim a última via da trip, pra mim, foi a mais chata, uma aderência do caramba, perfeita pra colocar qualquer escalador de arenito fendado no apavoro. Mas foi um verdadeiro aprendizado.
   Terminei a trip Rio somando mais de 4km de escalada. Segue a relação, porém creio que algumas infos estão erradas pois não lembro de todas as graduações e metragens.

Chaminé Galotti D3 5º Vsup/A0 E3 280m Pão de Açucar
Passagem dos Ólhos D1 3º IV C E2 150m Pedra da Gávea
K2 D1 4º V E2 150m Corcovado
Secundo Costa Neto D3 5º VIIa E3 270m Pão de açucar
Agulha do Diabo D2 3º IIIsup C E3 250m
Verruga do Frade D1 3º IIIsup A0 E3 60m
Leste D3 3º IIIsup E2 250m Dedo de Deus
Arco da Velha D4 6º VIIa E3 700m Pico Maior
Sólidas Ilusões D3 V VIsup E3 450m Capacete
Leste D4 4º V VI/A1 E3 700m Pico Maior
CERJ D3 5º V (A0/VIsup) E2 400m
Fata Morgana D3 5º Vsup E3 400m Capacete
Roberta Groba D3 5º Vsup E3 400m Capacete

Aproximadamente 4400m de escalada e pura diversão

 















quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Rio de Janeiro

    Não estava nos planos passar um tempo escalando no Rio quando o Bruno Alves me convidou e o Rafael Caon comentou comigo no encontro de montanmhistas que aconteceu na Barragem do Rio São Bento, entrada do vale da Serrinha.

2ª cordada da Chaminé Galotti

    A muito ouço o Bruno comentar, "vamos pra Salinas, tem muitas agarras na parede cara. Só não tem muita proteção né, maaas, fazer o que"...
   







Até que na primeira oportunidade que tive de parar por um tempo o trabalho no inverno eu liguei pro Bruno perguntando qual a data e horário do voo dele, pesquisei por vagas neste voo e consegui comprar a passagem. Imediatamente entrei em contato com a Nereida Resende na qual tinha trocado boas conversas tempos atrás e tive um rápido encontro no Marumbi no início do ano. Na hora ela confirmou dar uma mão na logística e, por minha surpresa, ofereceu a casa pra ficarmos lá, surpresa porque não conhecia bem aquele anjo.
Pedra da Gávea

visual da Pedra das Gávea
Chegar no Rio de Janeiro e ter alguém que pegue você no aeroporto, leve pra um apartamento que fica a 5 minutos de caminhada do metro, explique tudo sobre o apartamento, onde fica o mercado, banco, bar e por fim entrega a chave do apartamento em nossas mãos e diz "fique a vontade meninos, amanhã to indo pra São Bento do Sapucaí e só volto semana que vem" não tem preço. Estávamos de rei na capital carioca rodeado de pedras pra escalar.

Passagem dos Olhos, Pedra da Gávea


    Começamos a brincadeira indo pro pão de açucar, objetivo: Lagartão. Mas como falei no texto anterior, quando escalo com o Bruno o planejamento é só um motivo pra botar o pé na estrada porque é pelo caminho que decidimos. E foi o que aconteceu quando olhamos a Chaminé Galloti D3 5º VI (A0) E3 270m (hoje penso, porra porque não entramos no Lagartão né) quem já escalou ela sabe do que estou falando. Esfrega esfrega, aperta, passa, respira, escorrega, reza e cume com aquele chopp gelado curtindo o visual do Rio lá de cima e descendo de bondinho vendo um dos próximos objetivos.
Início da Secundo 
    O objetivo era aclimatar no Rio, não entrar em vias punks, curtir um pouco mais e se acostumar com o granitão dos bãos (minha escola são as fendas verticais de arenito, nada a ver com o Rio).
cordada crux da Secundo
    Partimos pra Gávea pra fazer a linda passagem dos olhos D1 3ºIV C E2 150m, visual incrível do Rio, o mais lindo que ví. Enquanto escalávamos 3 base jumper passaram assuviando do nosso lado, alucinante a sensação de ver os caras passarem caindo do seu lado e aguniante os segundos que passaram quando o terceiro não conseguiu se afastar da parede e só começou muito próximo de uma rampa. (uma semana antes um base jumper tinha morrido saltando da pedra da Gávea).
Corcovado
Visual do final da K2 no Corcovado
 








 Dia seguinte Foi a vez do Corcovado pela clássica e linda, também, K2 D2 4ºV E3 150m. Escalada incrível, mas, como em muitos lugares no rio, com os benditos grampos ao lado de fendas.
   A escalada já estava fluindo perfeita, aclimatado, ai entramos na Secundo costa Neto D3 5ºVIIa E2  270m. Essa via é um tesão, visual massa e escalada vertical e bem variada, chaminé exposto, diedro, regletera, agarrões...
Diogo guiando a Chaminé da unha 
Até que o Diego Botafogo mandou uma mensagem e marcamos de nos encontrar numa academia de escalada no Botafogo e no dia seguinte, cedinho, estávamos nos encontrando novamente na rodoviária do Rio pegando o bonde pra Petrópolis. Na rodoviária de Petrópolis encontramos o Diogo Chazan (não estava combinado) e combinamos de escalar tudo que era possível e no mesmo dia já estávamos bivacando no Paquequer numa noite fria de doer, mas eu estava com o saco de dormir patagônico e acordei suado enquanto a galera não dormiu a noite do frio, não ví nada, rááá.


Agulha do Diabo
O paquequer é um local pequeno que deve caber 2 barracas e fica a caminho da agulha do diabo, mas ficamos 2 em redes e 2 apenas com o isolante térmico.



famoso lance do cavalinho, só que não.
   












Acordamos antes do sol e partimos a caminho da Agulha do Diabo, cerca de 30 minutos de caminhada e já estávamos na base e as 08:30h da manhã estávamos sentados no cume da agulha contemplanto o início da manhã no incrível vale.


Pequeno cume da Agulha do Diabo, ou pico fastama como chamavam antigamente.

A Agulha do Diabo está entre as 15 escaladas mais lindas do planeta, realmente impressiona muito. Para chegar nela exige uma boa aproximação vindo da entrada do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em Teresópolis, cerca de 4 horas de caminhada num ritimo frenético e o trecho final a descida pra geladeira e subida novamente para a base é punk, estilo algumas aproximações na Serra Catarinense.
Cume da agulha com a galera mais alto astral
    Ficamos cerca de 1 hora no cume, curtindo o visual e a viagem. De lá viamos o próximo objetivo do dia, ao longe a Verruga do Frade era só uma pedrinha no cume de uma montanha.
   Na volta passamos pelo Paquequer, pegamos os apetrechos que deixamos por lá e descemos pela travessia da neblina até a base na Verruga do Frade. Não sou um expert em chaminé e escalar aquilo foi sofrimento puro, mesmo de segundo. Aliás, não era um expert porque depois desta passagem pelo Rio escalar chaminé ficou moleza, kkkk.

Diego abrindo os rapéis
Mais curtição no cume, comemoração com a galera e o pau pegou pra baixo pra chegar rápido na primeira pizzaria de Teresópolis.      
Dia seguinte tinha mais e a diversão continuou do mesmo nível de qualidade e diversão.
Diego e Diogo na ponta da unha
Pedra do Frade
Inicio do Chaminé do Frade
Diego e Diogo no chaminé do Frade
 
 Partimos do camping do parque em direção ao Dedo de Deus, visual incrível do Dedo visto da estrada, imponente. Se não me engano em 40 mi
nutos estávamos nos cabos de aço que tem em uma rampa onde dá acesso a agulha.
Dedo de Deus


Chegamos na base e tocamos pra cima as duas primeiras cordadas desencordados, o Bruno saiu correndo na frente e estava com a corda enrolada nas costas, não teve a segunda opção.
A briga pra chegar primeiro no cume.






O trecho é fácil, mas parei pra colocar a sapatilha porque a exposição é imensa, cerca de 400m. Rapidinho estávamos no cume e de cabeça feita com a qualidades das escaladas. Já estava certo que a viagem estava ganha, escaladas lindas nas vias mais clássicas do Rio num estilo massa, escalando sem pressão nenhuma, sem pressa, curtindo o visual mas escalando rápido ao mesmo tempo.













Cume do Dedo de Deus
Na real escalar rápido não é sair correndo na parede, basta não perder tempo. E não perdemos tempo mesmo porque descemos do Dedo de Deus embarcamos na caranga do Diego e partimos em direção a tão esperada Salinas. Mas a continuação da história fica pro próximo post. Salinaaaassss.








































quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Riscadaaaaaaa.

Terça feira perto das 22:00h o telefone toca. "Ué, o que o Bruno quer?"
- Fala dotô
- Já sabe o que vai fazer no feriadão? (sexta feira era feriado santo e segunda Tira Dentes)
- poh ainda não parei pra calcular.
- então vamos pra pedra Riscada em Minas.
- Blz, vou dar uma olhada onde fica certinho e te ligo amanhã.

Arestão da Place of happinnes a esquerda e filhote a direita.
    Quinta feira 17:30h estava saindo de Nova Veneza, sul de SC. Passei em Garopaba, peguei o Bruno e partimos em direção ao leste de Minas Gerais, próximo a divisa com Espirito Santo.
O tempo era curtíssimo apenas 4 dias no total. Tinhamos 2080km pra rodar até chegar a base da Riscada. Tocamos praticamente sem parar, tomando mate, café e o Bruno lendo o croqui pra mim pois nem sabia direito onde estava me enfiando.
De frente linha da Divina Liberdade.
 É incrível mas as minhas melhores escaladas foram com este cara e neste estilo, "onde vamos? não sei, vamos indo". Vamos pra Rio dos Cedros? bóra. Poh olha ali a Pedra Branca, entra ai e esquece Rio dos Cedros. Bóra pra Los Gigantes? bóra, poh já que estamos aqui na fronteira acho que Frey agente escala mais né. bóra. E assim vai, estudando "pouco" o que vem pela frente e descobrindo o caminho no meio dele. Deixando de ouvir alguns mitos que são piores do que um seg que não libera a corda na hora do crux. Da mesma forma que aconteceu em Salinas; entramos de cara na Arco da Velha D4 6º VIIa E3 700m , o Bruno estava "ligado" no que passa, mas eu não tinha nem noção do que tinha pra cima e depois que escalei fui saber que tinha que aclimatar antes, que a via era um mito, mas poh, ninguém avisou antes de eu entrar na via, e deve ser por isso que fluiu a via toda com a boca na orelha, curtindo cada cordada (não que seja de graça), e olha que já passei perrengue em vias ultra expostas e a proteção estava no pé. Tome muito cuidado com os super homens pois na escalada tradicional o que te leva pra cima é a mente. Como diz o Chiquinho, ninguém tem 3 côcos.
 
  Saímos numa quinta feira final de tarde e chegamos no sábado as 5 da madrugada, quase sem parar, de frente a muralha de mil metros. Cheguei acabado, fui dirigindo toda a viagem e por incrível que pareça eu tentei bivacar até umas 6 da manhã mas não preguei os olhos, estava adrenado da viagem e o Bruno pregado do meu lado (que inveja) no meio de um gramado rodeado de vacas.
   Quando o Bruno me convidou eu pensei bem (não muito bem mas pensei) em todo o trajeto, mais de 4 mil km pra rodar, mais de 1000m de parede pra escalar. Mas estava com planos de me jogar pra Chaltén no final do ano e precisava entender um pouco como meu corpo e minha mente reagiria quando totalmente fora da zona de conforto, em dias de atividades intenças dormindo mal ou quase nada, se alimentando daquele jeito. Um treinamento patagônico.
   Saímos procurando a face da via Divina Liberdade D5 5º VIIa E3 1100 ao amanhecer, estava do outro lado, na face oeste. Enchemos as garrafas d'água depois de um tempo procurando e acabamos entrando na via por volta das 10 da manhã.

Início da via
A ideia era escalar rápido, em um dia. Levei um mochila de 9L com um anoraque, 3L de água, um pacotinho de sementes e 2 barras de carboidratos. Iniciei guiando a primeira cordada, pra mim um dos crux da via, um sextinho chato nuns cristais polidos e as proteções esticadas. Mas fluiu, pois é apenas negociação e burocracia, devagar vai numa boa. Bruno tocou a segunda, eu a terceira que já faltou corda pois pedia no croqui 2 cordas de 70m e fomos com 2 de 60m tendo que sair em simultanio em quase todas cordadas.

Primeira cordada delicada e esticada
 O crux ficou pro Bruno, um 7a trabalhoso, ria atoa por ter caído pra ele (como se eu não tivesse calculado antes de pegar a ponta da corda no início né, rs). Mas acabei me ferrando pois o primeiro podia cair numa boa, mas o segundo saindo com 60m de corda esticada e o crux a 5m de um platô gigantesco cair era a última opção, ia se espatifar no platô com certeza. Nessa cordada já senti bastante, estava muito desgastado da viagem e não me senti mais seguro guiar naqueles esticões e passei a bola pro                                                                                                            Bruno.

 

As 3 horas da tarde chegamos no grande platô da P9, 500m de via. Já estava tarde demais pra tentar em um dia, na verdade saímos tarde demais e acabamos escalando mais lento pois eu estava me arrastando pela parede que não cessava nunca, em pé. Além de um sol de rachar com a temperatura acima dos 30º. Na primeira possibilidade de não ficar pendurado na cadeirinha eu me estarrei no chão e falei que dali não saia, descíamos ou continuaríamos no outro dia. Só que a primeira opção não estava nos planos do Bruno. Não deu nem nega, ajeitei umas pedrinhas, coloquei o anoraque ao anoitecer e encaixei o osso do quadril pra doer menos.
Visual do platô 


Acordava com um frio do caramba na madruga e o dia não raiava, e não raiou antes de começarmos a escalar pra esquentar. Faltavam mais 600m de via então o melhor era sair ainda na madrugada pois pra descer eram 21 rapeis de mais de 60m e ainda tinha 2080km de estrada pra voltar e estar em casa ainda na segunda pra trabalhar na terça e já era domingo.

Foi mais um dia de sol rachando, faltando água e catando das bromélias gigantes que tinham pelo caminho pra não desidratar. E a escalada continuou linda, canaletas gigantescas de doer o punho de tanto se empurrar pra cima, parecia um tobogã, com cristais polídos no meio te obrigando usar somente as laterais. Algumas cordadas eram fácil de se perder devido as poucas proteções e escondidas, deixando a escalada ainda mais picante e divertida e assim foi.
    Divina liberdade foi a via mais longa que escalei até hoje. Um big wall alucinante que te dá o prazer de escalar uma parede tão longa totalmente em livre mas que não cessa nunca. Várias cordadas de sexto grau até o fim com proteções longas fritam a cabeça, onde apenas 6 costuras e 2 peças móvel são o suficiente pra escalar toda a via. Uma verdadeira e divina liberdade de curtir a montanha da melhor maneira possível, escalando ela.
Bruno tentando na P16 lendo o croqui.
  Ah e o treinamento pra Patagônia. Pseh, a mente reagiu bem, mas o corpo precisava de muito mais preparo pra indiada. Liguei pra minha gerente na terça feira as 7 da manhã ainda em Joinville, a 5 horas de casa. Cheguei em casa ao meio dia, passei uma água no corpo e fui direto pro trampo ficando até as 8 da noite no num stop, melhor estilo patagônico. Porque se puxar e ficar forte basta treinar alguns dias ou mês. Mas aprender a conversar consigo mesmo e manter o controle é uma batalha eterna.




   
 










terça-feira, 15 de setembro de 2015

Escalando, viajando, viajando e escalando. Mas escrever...

  Depois de dois anos escrevendo pouco, ou quase nada, eis que surge aquela vontade de dividir algumas experiências e dicas de escaladas e viagens.
  Vou começar falando das trips mais recentes (nem tanto), não que eu vá lembrar de tudo por ordem, mas ainda sinto.

    Começava o primeiro dia de férias, 20 de dezembro de 2014, e neste mesmo dia as 10 e pouco estava levantando voo do Salgado Filho em POA com destino a Chaltén.
Antes da viagem, busquei o máximo de informações possíveis. Equipamentos necessários pra escalada em rocha e gelo, estratégia de escalada, roupas, camping, alimentação, água, previsão do tempo... Ah, a previsão do tempo, muito bem lembrado.
    Chaltén é um vilarejo que, quando lá, não dá vontade de voltar pra casa nunca. Uma avenida principal, San Martin, com tudo que você precisa na sua extensão, vinerias, cervejarias e loja de equipamentos de montanha. Ah, tem farmácia, padarias e mercados também que podem precisar por acaso.

El Chaltén abaixo, da esquerda pra direita: um pedacinho da Saint Exupery, Rafael Juarez, Poincenot, Silla, Chaltén, Val de Vois, Mermoz, Guillaumet, Cerro Castillo Negro e Elétrico.



   Muitas destas lojas tem wi fi, alguns gratuitos, só pedir a senha, outros precisam consumir algo para conseguir a senha, eu preferia estes que davam pra tomar uma gelada enquanto via a previsão do tempo (com celular) com a internet um pouco melhor pois havia menos usuários, mas como eu acompanhava a previsão duas vezes por dia o jeito era sentar nos banquinhos na frente dos estabelecimentos e "roubar" o sinal wifi. Há uma lan house na entrada da cidade, e o Rancho Grande tem sinal e computadores livres e uma torta de maça que não dá pra perder.  E como ver a previsão está aqui, http://www.pataclimb.com/knowledge/chaltenweather.html


Como estava falando, sai de POA umas 10 horas,   

POA x Buenos Aires x El Calafate final de tarde, umas 18:00 estava em El Chaltén. Pra chegar em El Chaltén (mais de 200km) vindo de Calafate tem algumas opções, van, bus ou taxi. De van que seria o melhor custo benefício eu teria que esperar 3 horas e pagar 350 pesos argentinos, de bus eu teria que ir até a cidade de El Calafate (o aeroporto fica a 20km da cidade) e da rodoviária ir até Chaltén por 280 pesos mas não sabia os horários. Mas encontrei um casal de Italianos que papo vai papo vem resolvemos pagar um taxi a 450 pesos cada um, e sair na hora pra Chaltén de boa, curtindo a estrada e fazendo as fotos.
   Chaltén conta com alguns camping, 3 grandes e alguns pequenos espalhados. Alguns hostéis, pousadas, até uns hoteis chiquesão que mal olhava com medo de cobrarem, e muitos Israelenses espalhados por tudo, rs. O camping do seu Domingos é onde concentra os brasucas e a galera da escalada mais roots.
 
   Ah, a previsão do tempo. Pseh, se o objetivo é caminhar não vão faltar opções quase que diariamente, dá pra caminhar até cair as pernas. Auto denominada como a Capital Argentina do trekking, Chaltén tem muitas opções e neste caso uns 20 dias pela cidade já é mais que suficiente. Agora se o objetivo é escalar, meu amigo, separe tempo pra isso ou conte com a suerte patagônica.
   Tinha apenas 29 dias pra ficar em Chatén dos 30 de férias que peguei, e só deu pra ter um gostinho da escalada. Peguei apenas uma ventana (tempo bom, sem vento e sem chuva ou neve) porém esta ventana veio depois de 2 semanas de tempo ruim. Ai entrou a estratégia, qual agulha atacar, que via entrar. Sabíamos que as mais clássicas como Guillaumet, Mermoz e outras estariam com fila nas vias mais factíveis.

  Fui pra Chaltén em solo, encontrei uma dupla de suécos que me distraíram por 2 dias com suas histórias doidas e suas iguarias das mais estranhas que já vi até encontrar o Alexandro Haiduque que foi o parceiro até o final da viagem. Nesta Ventana que entrou no dia 1º de janeiro resolvemos atacar a agulha Pollone Oeste, pela via A Fine Piece. Agulha esta com poucas repetições e consequentemente com poucas informações também, mas tínhamos visto uma matéria numa revista que se não me engano foi a primeira repetição, via linda, impressionante.
    Acordei dia 31 de dezembro as 5 horas conforme combinado. A previsão era melhorar o tempo a partir do meio dia que já vinha de alguns dias de chuva. Nesta hora que acordei o Haiduque balança a minha barraca, debaixo de chuva forte e diz. Poh cara, vamos mais tarde, muita chuva. Não deu nem nega, virei pro lado e fui dormir. Perto do meio dia começamos a jornada. Ir pro final da cidade colocar a mochila na perna, ainda na chuva, e esperar que uma alma caridosa dê uma carona até a ponte sobre o rio Eléctrico, cerca de 20km. Pegamos carona com a filha de um dos conquistadores de algumas vias na região de Chaltén, não recordo o nome da lenda.
Rio Eléctrico. Ao fundo Guillaumet, Mermoz e Fitz Roy
Caminha, caminha, caminha, cruza rios, vales, rodeia lagunas, pega trilha errada, se acha, entra no glaciar... e depois de umas 8 horas e uns 25km de pernada chegamos no destino e surpresa, tudo congelado, os últimos 100m da Pollone estava como o Cerro Torre, só gelo. Somente a Gran Gendarme estava sem gelo no cume, e não tínhamos levado o guia, parabéns pra nós.
Apesar de não rolar escalada valeu muito a pena, o lugar é incrível. Ficar de cara com uma muralha de quase 1km negativo, o Piergiorgio, foi incrível.
Glaciar Marconi e o imponente Piergiorgio ao fundo.


    A noite era de virada de ano, último dia de 2014 com aquele visual... mas pra não fugir do comum nas viradas de ano a terra tremeu, mas não por motivo de festas. Dormimos sobre o glaciar. Não tinha outra opção a não ser subir até a base da Pollone mas pra isso tinha que atravessar um glaciar que segundo os hermanos é curto pero picante, resolvemos não ver o que é um glaciar picante pra hermano. Subir pra não escalar não valia o risco. 

Piergiogio com a Pollone Oeste ao lado e os cumes congelados. 
A divisão entre o sol e a sombra é a linha da via A Fine Piece.
De tempos em tempos dava um estalo o tudo tremia, pedrinhas rolavam a menos de 5m da gente pra provar que não era pira nossa que tudo estava se mexendo. A noite toda rolou avalanches assustadoras, inclusive o caminho que analisamos para subir até a Pollone foi varrido por uma. Mas escolhemos um lugar muito protegido de avalanches, mas sobre o gelo do glaciar que se mexia.



Fitz Roy
    Ai vem aquele período de espera novamente na pequena Chaltén, e falando em El Chaltén; este era o nome da montanha hoje conhecida como Fitz Roy. El Chaltén quer dizer "montaña humeante" chamado pelos antigos povos aborígenas que viviam naquela região, os Tehuelches. Chamavam de montanha fumegante pois é comum ficar com núvens se formando ao redor do cume, somente lá. Acreditavam ser um vulcão. Fitz Roy foi o nome dado a montanha por Perito Moreno e a pouco ouve uma discussão pois os Argentinos querem que voltem a chamar de El Chaltén.

E a espera por uma nova ventana continuava, enquanto isso as possibilidades de diversão são muitas. Em dias de sol, que é bem comum, há muitas caminhadas para fazer e lugares incríveis pra conhecer. A menos de 10min de caminhada do centro de Chaltén tem uma parede com cerca de 200m com vias de 5º a 8a Francês, quatro ou cinco cordadas do ladinho do camping e com um visual incrível da cadeia de montanhas do Fitz e Torre. 
trilha para a Laguna Torre, Niponino, Cerro Solo... Cerro Torre ao fundo.













escalada a 10min. do centro de Chaltén.



   A quem vá para Chaltén apenas para fazer boulders, paraíso, pedras pra todo lado. 
E um detalhe importante, o dia acaba perto das 10:30 da noite, ou tarde, não sei. Então pra quem gosta de curtir aquela loucurada das noites Chaltenhas e acordar depois do meio dia tem tempo pra se acabar escalando ainda. 

    Não lembro ao certo o dia, mas início de janeiro chegou o Bruno Alves, parceiro de muitas indiadas. Chegou a mil por hora, querendo correr pra montanha, dia quente e sem vento na cidade e aquele turbilhão na montanha com as nuvens tenebrosas circulares rodeando o Fitz e a empolgação do homi era grande, "vamo vamo vamo, bóra pra montanha", era o que mais ouvia. E a previsão não era das melhores.
     Mas eis que surge um dia meio jururu na previsão, 3 nós de vento apenas, alguns milímetros de chuva e temperatura próxima ou abaixo de zero na montanha, mas chuva na cidade e apenas 1 dia. Não tinha o que fazer a não ser dar umas piquetas, que pra tal estava perfeito. 
Cerro Solo na visão de um spectron 4
Saímos de Chaltén debaixo de uma garoazinha a 01:30 da madrugada, a galera tomando vinho pra esquentar e nós colocando o anoraque pra não se molhar e pegando a trilha. As 3:30 estávamos atravessando o turbulento rio Fitz Roy, a saída da Laguna Torre, pela tiroleza que fica fixa lá. Depois de se achar e ver que estava perdido, logo depois de passar aqueles perrengues varando as "morenas", em meio as paredes rochosas numa canaleta sinistra eis que clareia o dia e vimos o caminho logo no início do glaciar na base do Cerro Solo, este era o objetivo, chegar bem cedo no glaciar pra pegar o gelo duro e passar "voando". 
Momento de transição entre a pedra e o início do glaciar. Laguna Torre ao fundo e o contraste do tempo bom na cidade (direita) e péssimo pra dentro do vale.
Cerca de meia hora subindo a rampa de neve começou a nevar, ainda bem por que a preocupação era se chovesse, mas tudo certo, frio e neve. 
Rampa de neve e as gretas a esquerda da foto.
      A rampa pra chegar a base de rocha do Solo, ponto onde começa realmente a escalada técnica em gelo, é cheio de gretas, tem que ficar bem ligado, tem umas que cabe todos que estão em Chaltém dentro. 
Greta tenebrosa
    Passando a maior greta de todas que tinha naquele momento a neve começou a cair forte, o tempo fechou, a neve da rampa virou gelo, a inclinação aumentou, a piqueta começou a vibrar em cada piquetada, o grampon fincava poucos centímetros e a inclinação aumentou, e aumentou, e o negócio foi ficando mais sério ainda. Segundo o Rodrigo León, um brother que logo depois passou um mês escalando comigo aqui em SC, o lance era costear o paredão de rocha pela esquerda, cerca de 2 cordadas de 50º e sair numa rampa de gelo (isso indo cedo, se não vira neve). Mas não rolou de costear a rocha, tinha uma placa fininha de gelo onde deveria já ser rocha. O Bruno foi pegando pra esquerda em direção a uma parede azul negativa de gelo, escalando numa rampa de cerca de 65º passamos por baixo numa travessia doida voltando pra direita e pegamos a tal rampa de 50º que pra minha surpresa tinha uns 150m pra cima ainda. Sem segurança com aquela visão de uns 300m de rampa, que não era bem rampa, e aquela greta gigantesca que já estava pequeniiinha sorrindo pra gente lá embaixo... Não sai da minha cabeça a sensação, de ter que se concentrar, focar e ir controlando o psicológico pra não fazer coisa errada e colocar os amigos de cordada em roubada, ou pior.
  A rampa começou a deitar, os dentes começaram voltar a aparecer e o cume já estava ali, pertinho. mais alguns passos e cume. 

Cume do Cerro Solo, Eu, Alessandro Haiduque e Bruno Alves








    Resolvemos voltar rapelando pela linha de escalada que tem na rocha, ou teríamos que desescalar a rampa de gelo. Fui o primeiro a negar voltar por ali. Uns 8 rapeis, e um cordelete abandonado e já estávamos em terra firme, ops neve firme. Chegamos em Chaltén as 23:00h, no num stop, paramos apenas pra colocar e tirar os grampons.

    Se passaram o restante da minha temporada e nada de melhora no tempo pra escalar em rocha na montanha. E pra "piorar", os últimos 2 dias meu em Chaltén foram ajudando o Bruno e o Alessandro a planejar a próxima escalada, pois uma ventana de 5 dias estava por vir. Minha última manhã em Chaltén, voltando pra casa, foi de céu azul e sem vento algum e os dois já estavam na montanha.
    Ficou o gostinho de quero mais. Você se apaixona e não para de pensar nas lindas e imponentes montanhas patagônicas de El Chaltén ou se traumatiza e não poê mais os pés lá. Não vejo a hora de voltar.

Abraço
Filipe