segunda-feira, 28 de março de 2011

Primeiras investidas no Setor da Serrinha.

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A agonia dos 6 meses de molho não foi maior do que os finais de semanas que passaram após eu ter aberto a trilha até a parede antes da 1ª investida do que mais me interessava, a escalada. Era final de temporada de escalada na serra, feriado de dia das crianças, aproveitei os 4 dias que se emendaram no feriadão e me joguei pra serra com minha, namorada e parceira de ponta da corda Aline. Os dois dias do final de semana foram para arrumar o setor, plainar o local da barraca, que por sinal levei apenas a estrutura pois fica debaixo de um teto gigante, fazer uma pequena bica para acular a água que escorria da parede, abrir as trilhas para o lado leste e oeste do setor e visualizar as futuras vias do setor. Na segunda feira pela manhã, abri uma via de 15m em móvel  que fica a 5m de onde coloquei minha barraca, debaixo do teto.

























Ainda batendo o segundo pino da parada chega nossos parceiros Marlon e Lara pra passar o dia e conhecer o setor, mas o arrependimento de não ter vindo preparado para acampar foi grande, a magia do local tomou conta do espirito deles também.  Aquele teto gigante, o barulho do vento vindo pelos vales do canion até chegar no acampamento, a bica d'agua ao lado da barraca, o barulho constante de animais próximos do acampamento... Cada setor na serra tem sua magia, tem um imã que não deixa o escalador que conhece e sente isso tudo se afastar muito tempo. Apesar da dificuldade de acesso a 90% dos setores na serra, com trilhas de algumas horas sobre pedras soltas, paredes ingrimes com penhascos ao lado passando com uma mochila cargueira com a casa nas costas, dificuldade do acesso a água nos setores, perigo constante de se machucar, como uma torção no tornozelo por exemplo, onde o acesso ao resgate que dificulta muito faz com que a atênção dos montanhistas mais experientes, consientes do que pode acontecer dobre e redobre. Apesar de tudo isso, não troco um fim de semana nos vales da serra por nada, quem conhece isso tudo sabe o que eu estou dizendo, e no mínimo está com as mãos suadas sentindo tudo isso loucos para estarem lá, sentindo o cheiro do mato, o ar fresco batendo no rosto...
Na tarde em que nossa visita ainda estava lá, iniciei uma conquista, que pra mim, será a via clássica do setor, uma fenda muito linda que, acredito eu, chegará a 70m, a segunda cordada não foi aberta ainda.
Iniciei a conquista por duas fendas paralelas uma da outra por uns 7m até a fenda da esquerda ficar rasa e ir para o negativo.




Neste ponto a fenda da direita, onde continua a via, alargou, precisaria de uma peça similar ao camalot #4 ou #5, só tinha até o #3, protegi na fenda rasa da esquerda com 2 nuts meia boca pro psicológico e toquei 4m pra cima até a fenda estreitar numa laca e entrar um camalot #1, neste ponto em caso de queda poderia dar chão, a última peça bomba era um camalot #2, 5m abaixo. Virei um bloco e cheguei a um platô bem confortável com uma arvorezinha, laceia a arvore e protegi, dali pra cima são mais 5m de chaminé até chegar em outro platô. Com a Última proteção na árvore eu toquei pra cima até o chaminé estreitar no meio onde o capacete não passava, encabrerei pois teria que sair do chaminé em um ponto onde não existia agarra alguma  em caso de queda daria platô. Desiscalei até o platô e abandonei a via para entrar no outro dia e pensar melhor. O Marlon e Lara já tinham ido embora neste momento.
Voltamos para o acampamento, iniciei a bóia e se deparamos com dezenas de macacos pregos pulando de galho em galho passando pelo acampamento sem nos perceberem, coisas da serra.

 No último dia entrei na via novamente, já com o psicológico preparado, e toquei pra cima este lance exposto do chaminé, acredito que ficou um E3. Quando entrei no chaminé novamente pra proteger debaixo de um teto, que era o final do chaminé, ouvi o barulho das asas batendo e o berro da Aline e dos parceiros e irmão que vieram para curtir o local, Renato e Fernanda. Não sei que espécia era, só sei que era uma gavião gigante, muito lindo. Após virar o tetinho no final da chaminé, entrei em outro pequeno chaminé e me deparei com 2 filhotes do gavião, originalizando o nome da via, Falconídeo.

 Bati a parada, a galera repetiu a via em top-hope e descemos pra deixar os bixinhos em paz. A segunda cordada ficou para essa temporada, precisa de pelo menos 2 peças similar ao camalot #5 e #4, não tinha no momento.








sexta-feira, 25 de março de 2011

A evolução da escalada na Serra Geral Sul Catarinense

A cerca de 15 anos atrás o montanhismo inicia ainda de uma forma discreta, e amadora na região de Criciúma, simplesmente pela vontade de estar junto as montanhas, vales, canions, cachoeiras, paredões rochosos... da Serra Geral. Mais tarde, não muito tempo depois, a escalada vem acompanhar os montanhistas em suas jornadas.
Região de paredes de arenito dificulta o desenvolvimento da escalada pela escasses de agarras, sendo que ainda na grande maioria as paredes são negativas. Além desse problema, a falta de acesso a equipamentos prejudicava ainda mais os pioneiros da escalada na região, forçando com que fabricassem equipamentos caseiros como pitons (ainda existentes em algumas fendas no setor carrasco), mosquetões, pinos "P", improvisassem cordas e cadeirinhas. Mas com a evolução dos equipamentos e da escalada, melhorou  o acesso, onde o montanhismo pode alavancar sendo abertas vias clássicas  na serra, como nos Dedos em Treviso, cachoeira do Salto Branco em Santo Antonio, também em treviso e na parede no Vale do São Pedro em Siderópolis entre outras vias clássicas em outros setores.
Como a disponilidade de agarras no arenito da serra eram poucas, a escalada lutava para evoluir, até aparecer as peças móveis. Algumas vias foram abertas, ainda muito lentamente pela falta de equipamentos
e nos últimos 2 anos duplas de escaladores se formaram juntando seus equipos, escaladores de cidades e estados vizinhos vieram nos visitar, o acesso a equipamentos facilitou e muitos setores começaram a ser explorados. Antigos setores foram abertos novas vias lindas em linhas onde pouco chamava a atênção e todo o problema de poucas agarras em paredes negativas se tornou num parque de diversões com fendas perfeitas, mais setores foram descobertos e dezenas de vias abertas.
A abertura de mais um setor...
Em um dos dias de agonia dos 6 meses que fiquei de molho com uma fratura no pé, o pessoal saiu pra conhecer a cachoeira do rio Serrinha, um dos principais rios que abastecem a barragem do rio São Bento
em Siderópolis.
 Na volta me mostraram as fotos da barca e a foto de uma parede de arenito branco me chamou atênção entre as fotos da linda cachoeira.

Não fiquei tranquilo até ir ver de perto essa parede. Quase 2 anos depois após quase todo o inverno de 2010 sem escalar, consegui um dia em que saí sozinho para abertura da trilha até o, agora, setor Serrinha.
No final da trilha dei de cara num teto de uns 30m com uma espetacular nascente de água escorrendo na parede de arenito. Minha 1ª ação foi dar uma "facãozada" na pedra e confirmar, com a faisca que saiu, que estava diante a um arenito de qualidade com dezenas de fendas entre 60 e 100m.

Continua...